No princípio era
o Logos, o Logos estava perante Deus e Deus era o Logos.
O termo grego “logos”
traduz o conceito de “Palavra de Deus”, muito importante para o Antigo
Testamento. Ele ensina que houve uma emanação do Poder de Deus, até a chegada
do Novo Testamento, quando o próprio Deus se revela em Cristo. Para entendermos
a importância desta revelação e nos transportarmos do âmbito religioso ao
espiritual, devemos ir à gênese do conceito de logos. De onde vem tal doutrina sobre o poder da Palavra de Deus?
Indo aos Salmos, encontramos o poeta dizendo:
Inclinar-me-ei
para o teu santo templo, e louvarei o
teu nome pela tua benignidade, e pela tua verdade; pois engrandeceste a tua
palavra acima de todo o teu nome. Salmos 138:2
A Palavra que Deus exaltou acima de todo o nome é o Logos, e isto nos remonta às origens do
termo grego, até as comunidades helênicas, entre os quais se popularizou a “doutrina do logos universal”, passando pelos
cantos de Homero (sec. VIII A.C.), às especulações de Anaximandro (609 – 546 A.C.)
e de Anaxímenes (585 – 528 A.C.) até às provocações de Heráclito (540 – 470 A.C.).
Em Heráclito o conceito sofre uma revolução, pois deixa seu uso comum para
ganhar status filosófico. A partir dele, logos
é entendido como o conjunto da realidade em sua totalidade. Como visto
anteriormente, o logos heracliano tem
origem na arché da teogonia de
Hesíodo. Tudo se inicia com o Caos, a
desordem. Em seguida surge a noção de ápeiron,
(a infinitude) e do pneuma (o
espírito), que vem do infinito e volta a ele, embasando a doutrina do panta rei.
Tales de Mileto |
É como o passageiro na estação Sé do metrô paulistano às seis da tarde. Enquanto o transporte não chega todos se contém, para não cair na linha. Mas à chegada da composição, a turba avança e arrasta consigo todos os circunstantes. Não há voluntarismo individual. Prevalece a força da multidão. Qualquer resistência é anulada ante o ímpeto do mar humano.
Heráclito ensina que caos
(desordem), kósmos (mundo), ápeiron (infinito) e pneuma (espírito) formam um conjunto de
fatores que impulsionam tudo de tal maneira à mudança e as coisas são mudadas
obrigatoriamente de um estado a outro, involuntariamente. Há empurrões e
empuxes. Não há lugar para voluntarismos particulares. Ele concebe o logos em conjunto com o espírito
infinito, empurrando o ser e o não ser de um estado a outro. É neste caudal que
surge a noção de Nous (mente), para
fazer uma conjugação entre o ápeiron
e o pneuma. A mente é impulsionada
pelo fulgor do infinito junto com o espírito, conjugando-se para impulsionar o
elã da existência e o fulgor da vida. A vida é algo que fulgura, faísca, toca
fogo. Ela não é um sopro que se apaga, uma brisa amena. A vida é animada com as
competências do pneuma e impulsiona
tudo à frente, se recusando a ficar inerte e estatizada, pois a falta de
movimento é morte.
O pensamento de Heráclito está em fluxo contínuo e não
encontra elenco para se expressar nem auditório para aplaudir. Mas o que
consegue traduzir em metáforas é o suficiente para colocar a filosofia a
trabalhar por milênios: tudo flui – panta
rei. Nada é permanente, a não a ser a
mudança. O kósmos está impulsionado pelo
elã da vida e do espírito que vem e vai ao infinito, levando com ele tudo o que
apanhou no kósmos. Mas o pneuma possui nous (mente), e é permeado pelo éter,
o princípio da eternidade, a physis
do ápeiron (infinito). Em metáfora,
seria uma linha que se estende para sempre. Tudo flui. Tudo está correndo para arché (o princípio), o destino final.
Bergson |
Obras Citadas
ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. 5ª. ed.
São Paulo: Martins Fontes, 2007.
REALE, G.;
ANTISERI, D. História da Filosofia. Antiguidade e Idade Média. 3ª. ed.
São Paulo: Paulus, v. I, 1990.
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