sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Metodologia de Heráclito aplicada ao Novo Testamento

Καὶ ὁμολογουμένως μέγα ἐστὶν τὸ τῆς εὐσεβείας μυστήριον· θεὸς ἐφανερώθη ἐν σαρκί, ἐδικαιώθη ἐν πνεύματι, ὤφθη ἀγγέλοις, ἐκηρύχθη ἐν ἔθνεσιν, ἐπιστεύθη ἐν κόσμῳ, ἀνελήφθη ἐν δόξῃ.

E, sem dúvida alguma, grande é o mistério da piedade: Deus se manifestou em carne, foi justificado no Espírito, visto dos anjos, pregado aos gentios, crido no mundo, recebido acima na glória. I Timóteo 3.16

Por que o logos teria que assumir, justamente, a carne humana? Não poderia Deus agir à distância, direto da eternidade? Por que não agiu do céu na terra? Sendo Todo Poderoso, poderia estalar os dedos e terminar com o mal no mundo sem causar dano a nada que fosse bom. Mas o Evangelho apresenta o Logos de Deus assumindo o empobrecimento da carne, a vergonha de uma cruz e a redução dos mortais. Qual a lógica da encarnação? Para quê este absurdo divino? Onde ficou sua onipotência? Sua transcendência? Sua imensurabilidade? Sua inacessibilidade?

Na mentalidade dos gregos os deuses mantinham-se fora da vida humana. Viviam no Olimpo, e quando adentravam ao mundo dos mortais, agiam inescrupulosamente, sem contato real com os homens. Esta era a lógica da religião! A encarnação de um deus jamais foi pensada na mitologia antiga. O mais próximo que chegaram destra ideia, era o nascimento de um semideus, por união entre uma divindade e um humano, mas a encarnação de Zeus, passando pelo ventre de uma mulher mortal e o rebaixamento ao nível dos fracos mortais? Nunca se aventou esta hipótese!

Nietzsche
Nietzsche expõe claramente em suas obras esse conflito e esse distanciamento entre homens, deuses e natureza, dois mundos artísticos e antagônicos que uniam homem e natureza, cada um em seu mundo, um de sonhos e de beleza onírica, outro de uma profunda realidade. No entanto um deles havia morrido para o mundo. (GRAMA, 2016)

Ao adentrar pelo caminho da filosofia, o cristão se depara com a contradição flagrante entre o pensamento religioso e o Evangelho. Os apóstolos utilizaram arquétipos da filosofia grega, mas por uma metodologia de contradição aos modelos das lógicas mitológicas, pré-socráticas e platonistas. Ainda que se utilize do polemiscismo, como fez Heráclito, acaba por distanciar-se dele, inaugurando a lógica cristã. A polêmica é a chave mestra para se filosofar, e quem tenta anular o contraditório, compromete sua missão. Somente na tensão entre os polos e as contradições polêmicas se pode pensar filosoficamente. “Kant entendeu por “uso Polêmico da razão" a defesa de seus enunciados contra as negações dogmáticas” (ABBAGNANO, 2007). É preciso manter o finito e o infinito, o ser e o não ser, o presente e o devir, aceitando que tudo está em constante fluxo de mudanças, com nada permanecendo imóvel, pois “tudo flui” – panta rei.   

Para os cristãos, a filosofia serve como provocadora de mudanças extremas. Tenha-se em mente, que nosso objetivo em filosofar é encontrar um extrato de espiritualidade acima do fenômeno religioso e mítico. Pela fórmula de Parmênides, devemos optar: espiritualidade ou religiosidade? Mas como decidir isto em estado de imaturidade existencial? Geralmente sacrificamos o espírito e ficamos com a religião. Se optarmos pela espiritualidade, nos defrontaremos com o infinito e nos veremos perdidos em meio à eternidade, ao etéreo, ao pneuma e ao indescritível. O espírito exige o exercício pleno da liberdade, pois é tangido pelo éter e pelo ápeiron, conjugando-se com a psique (a alma). O mundo aerado do espírito não suporta o aprisionamento que os sistemas provocam.

Nas traduções portuguesas da Bíblia, “espírito” representa o heb. ruah e o grego pneuma. A palavra encontra-se 378 vezes no AT hebr. e ainda 11 vezes na parte aramaica do livro de Daniel. [...] Na Septuaginta, pneuma traduz 264 vezes o ruah em parte [indicando] a vida espiritual de uma pessoa. (BAUER, 1994)

Obras Citadas

ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. 5ª. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

BAUER, J. B. Dicionário Bíblico-Teológico. São Paulo: Loyola, 1994.

GRAMA, S. N. A Morte dos Deuses. Revista Filosofia. Disponivel em: <http://filosofia.uol.com.br/filosofia/ideologia-sabedoria/41/artigo292198-2.asp>. Acesso em: 15 Dezembro 2016.

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