Καὶ ὁμολογουμένως μέγα ἐστὶν τὸ τῆς εὐσεβείας
μυστήριον· θεὸς ἐφανερώθη ἐν σαρκί, ἐδικαιώθη ἐν πνεύματι, ὤφθη ἀγγέλοις, ἐκηρύχθη
ἐν ἔθνεσιν, ἐπιστεύθη ἐν κόσμῳ, ἀνελήφθη ἐν δόξῃ.
E,
sem dúvida alguma, grande é o mistério da piedade: Deus se manifestou em carne,
foi justificado no Espírito, visto dos anjos, pregado aos gentios, crido no
mundo, recebido acima na glória. I
Timóteo 3.16
Por que o logos
teria que assumir, justamente, a carne humana? Não poderia Deus agir à distância,
direto da eternidade? Por que não agiu do céu na terra? Sendo Todo Poderoso,
poderia estalar os dedos e terminar com o mal no mundo sem causar dano a nada
que fosse bom. Mas o Evangelho apresenta o Logos
de Deus assumindo o empobrecimento da carne, a vergonha de uma cruz e a redução
dos mortais. Qual a lógica da encarnação? Para quê este absurdo divino? Onde
ficou sua onipotência? Sua transcendência? Sua imensurabilidade? Sua
inacessibilidade?
Na mentalidade dos gregos os deuses mantinham-se fora da
vida humana. Viviam no Olimpo, e quando adentravam ao mundo dos mortais, agiam
inescrupulosamente, sem contato real com os homens. Esta era a lógica da
religião! A encarnação de um deus jamais foi pensada na mitologia antiga. O
mais próximo que chegaram destra ideia, era o nascimento de um semideus, por
união entre uma divindade e um humano, mas a encarnação de Zeus, passando pelo
ventre de uma mulher mortal e o rebaixamento ao nível dos fracos mortais? Nunca
se aventou esta hipótese!
Nietzsche |
Nietzsche expõe
claramente em suas obras esse conflito e esse distanciamento entre homens,
deuses e natureza, dois mundos artísticos e antagônicos que uniam homem e
natureza, cada um em seu mundo, um de sonhos e de beleza onírica, outro de uma
profunda realidade. No entanto um deles havia morrido para o mundo. (GRAMA, 2016)
Ao adentrar pelo caminho da filosofia, o cristão se depara
com a contradição flagrante entre o pensamento religioso e o Evangelho. Os
apóstolos utilizaram arquétipos da filosofia grega, mas por uma metodologia de
contradição aos modelos das lógicas mitológicas, pré-socráticas e platonistas.
Ainda que se utilize do polemiscismo, como fez Heráclito, acaba por
distanciar-se dele, inaugurando a lógica cristã. A polêmica é a chave mestra
para se filosofar, e quem tenta anular o contraditório, compromete sua missão.
Somente na tensão entre os polos e as contradições polêmicas se pode pensar
filosoficamente. “Kant entendeu por “uso Polêmico da razão" a defesa de seus
enunciados contra as negações dogmáticas” (ABBAGNANO, 2007). É preciso manter o
finito e o infinito, o ser e o não ser,
o presente e o devir, aceitando que
tudo está em constante fluxo de mudanças, com nada permanecendo imóvel, pois
“tudo flui” – panta rei.
Para os cristãos, a filosofia serve como provocadora de
mudanças extremas. Tenha-se em mente, que nosso objetivo em filosofar é
encontrar um extrato de espiritualidade
acima do fenômeno religioso e mítico. Pela fórmula de Parmênides, devemos
optar: espiritualidade ou religiosidade? Mas como decidir isto em
estado de imaturidade existencial? Geralmente sacrificamos o espírito e ficamos
com a religião. Se optarmos pela espiritualidade,
nos defrontaremos com o infinito e nos veremos perdidos em meio à eternidade,
ao etéreo, ao pneuma e ao
indescritível. O espírito exige o exercício pleno da liberdade, pois é tangido
pelo éter e pelo ápeiron, conjugando-se com a psique
(a alma). O mundo aerado do espírito não suporta o aprisionamento que os
sistemas provocam.
Nas traduções
portuguesas da Bíblia, “espírito” representa o heb. ruah e o grego pneuma.
A palavra encontra-se 378 vezes no AT hebr. e ainda 11 vezes na parte
aramaica do livro de Daniel. [...] Na Septuaginta, pneuma traduz 264 vezes o
ruah
em parte [indicando] a vida espiritual de uma pessoa. (BAUER, 1994)
Obras Citadas
ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. 5ª. ed.
São Paulo: Martins Fontes, 2007.
BAUER, J. B. Dicionário
Bíblico-Teológico. São Paulo: Loyola, 1994.
GRAMA, S. N.
A Morte dos Deuses. Revista Filosofia. Disponivel em: <http://filosofia.uol.com.br/filosofia/ideologia-sabedoria/41/artigo292198-2.asp>.
Acesso em: 15 Dezembro 2016.
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