O primeiro discute-se assim. — Parece que Deus não é infinito.
1. — Pois, todo infinito é imperfeito, porque implica as
características de parte e de matéria, como diz Aristóteles. Ora, Deus é
perfeitíssimo. Logo, não é infinito.
2. Demais. — Segundo o Filósofo, finito e infinito se referem à
quantidade. Ora, Deus, não sendo corpo, não tem quantidade, como já se
demonstrou. Logo, não é infinito.
3. Demais. — O que está em um lugar porque não está em outro é
localmente finito; e, portanto, de substância finita também há de ser o que é
uma coisa, por não ser outra. Ora, Deus é o que é e não outro ser, pois não é
pedra, nem madeira. Logo, não é de substância infinita. (AQUINO, 2016)
Por definição, o ápeiron se estende infinitamente à
frente da possibilidade de ser conhecido, impedindo Deus de conhecer seu fim,
portanto, sendo maior que Deus. Se o infinito é maior que Deus, Deus é finito e
não pode ser Deus. Esta lógica propõe uma aporia, um raciocínio circular que
não permite ir além dele mesmo. O contraponto ao ápeiron seria πέρας (peras),
ou seja, limite, fronteira, fim. Se
aplicarmos πέρας a
Deus, estamos limitando-o. Se aplicarmos ἄπειρον, entramos em aporia e ficamos em círculos.
APORIA. Esse termo é usado
no sentido de dúvida racional, isto é, de dificuldade inerente a um
raciocínio, e não no de estado subjetivo de incerteza. É, portanto, a dúvida objetiva,
a dificuldade efetiva de um raciocínio ou da conclusão a que leva um
raciocínio. P. ex., "As A. de Zenão de Eléia sobre o
movimento". (ABBAGNANO, 2007)
Deus só pode ser
Deus se ele conhecer a si mesmo. Só pode ser conhecido aquilo que possui
limites. Deus é Deus por que conhece tudo sobre todas as coisas, inclusive, a
si mesmo. Mas ao conhecer-se a si mesmo, Deus se limita, portanto, não é
infinito. Se for finito não pode ser Deus, pois Deus não pode ser limitado por
nada, nem mesmo pelo infinito. Se Deus conhece o infinito, significa que o
infinito não existe, portanto, tudo é finito, inclusive Deus.
O
infinito, quando aplicado a Deus, nos leva ao ateísmo, já que não o infinito é
maior que Deus sem ser Deus, logo, Deus não existe. Este é o poder que o
pensamento filosófico produz no raciocínio humano, e contrasta com o senso
comum, ou seja, aquela opinião generalizada entre o povo acrítico.
SENSO COMUM. Aristóteles
designou com esta expressão a capacidade geral de sentir, à qual atribuiu duas
funções: 1- constituir a consciência da sensação, que é o "sentir o
sentir", porquanto tal consciência não pode pertencer a um órgão especial
do sentido, como, p. ex., à visão ou ao tato. 2- perceber as
determinações sensíveis comuns a vários sentido, como o movimento, o repouso, o
aspecto, o tamanho, o número e a unidade. Essa noção foi admitida também pelos
estoicos, que atribuíam ao S. comum as mesmas funções. Retomada por Avicena,
passou para a escolástica medieval e mais tarde também foi comumente aceita por
todos os aristotélicos e pelos escritores que se inspiraram de algum modo na
psicologia aristotélica. (ABBAGNANO, 2007)
O senso comum não se presta a depurar o pensamento de suas
contradições. É simplista, baseando-se em afirmações arbitrárias e não se
preocupa com o irracionalismo de suas proposições. Se levarmos o senso comum e
suas “verdades” até as últimas consequências, ficaremos rodeando o círculo
vicioso das aporias, nunca avançando
para além deste senso. Tomás de Aquino nos grita aos ouvidos contra o doxa
do infinito, chamando-nos para um refinamento teológico-filosófico além do
senso comum da cristandade.
Mas o conceito de infinito não surgiu em Aquino, e sim, entre
os pré-socráticos, tendo em Anaximandro (610-547 A.C) um realce filosófico.
Nele o ápeiron se manifesta de forma
primordial, como ar e água, depois se transmutando em elementos mais sólidos.
Depois dele temos Heráclito com sua metodologia de polemizar o ser e não ser de todas as
coisas. Sua doutrina do logos é uma
evolução do ápeiron, pois surge do
indefinido, e nos remonta até Hesíodo (séc. VIII A.C.), o autor da teogonia
e a origem dos deuses.
Obras Citadas
ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. 5ª. ed.
São Paulo: Martins Fontes, 2007.
AQUINO, T. D.
Permanência Internet. Permanênica, 2016. Disponivel em:
<http://permanencia.org.br/drupal/node/179>. Acesso em: 13 dezembro
2016.
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