segunda-feira, 6 de novembro de 2017

terça-feira, 29 de agosto de 2017

Adquira hoje mesmo a Obra completa de Filosofia de Fronteira.

http://digitalizabrasil.com.br/e-books/filosofia-de-fronteira



segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Relação entre o λόγος e πάντα ῥεῖ de Heráclito

Ἐν ἀρχῇ ἦν  λόγος, καὶ  λόγος ἦν πρὸς τὸν θεόν, καὶ θεὸς ἦν ὁ λόγος,
No princípio era o Logos, o Logos estava perante Deus e Deus era o Logos.

O termo grego “logos” traduz o conceito de “Palavra de Deus”, muito importante para o Antigo Testamento. Ele ensina que houve uma emanação do Poder de Deus, até a chegada do Novo Testamento, quando o próprio Deus se revela em Cristo. Para entendermos a importância desta revelação e nos transportarmos do âmbito religioso ao espiritual, devemos ir à gênese do conceito de logos. De onde vem tal doutrina sobre o poder da Palavra de Deus? Indo aos Salmos, encontramos o poeta dizendo:

Inclinar-me-ei para o teu santo templo, e louvarei o teu nome pela tua benignidade, e pela tua verdade; pois engrandeceste a tua palavra acima de todo o teu nome. Salmos 138:2

A Palavra que Deus exaltou acima de todo o nome é o Logos, e isto nos remonta às origens do termo grego, até as comunidades helênicas, entre os quais se popularizou a “doutrina do logos universal”, passando pelos cantos de Homero (sec. VIII A.C.), às especulações de Anaximandro (609 – 546 A.C.) e de Anaxímenes (585 – 528 A.C.) até às provocações de Heráclito (540 – 470 A.C.). Em Heráclito o conceito sofre uma revolução, pois deixa seu uso comum para ganhar status filosófico. A partir dele, logos é entendido como o conjunto da realidade em sua totalidade. Como visto anteriormente, o logos heracliano tem origem na arché da teogonia de Hesíodo. Tudo se inicia com o Caos, a desordem. Em seguida surge a noção de ápeiron, (a infinitude) e do pneuma (o espírito), que vem do infinito e volta a ele, embasando a doutrina do panta rei.

Tales de Mileto
Tales de Mileto é o criador [...] do problema concernente ao “princípio” (arché), ou seja, a origem de todas as coisas. O princípio é, propriamente, aquilo de que derivam e em que se resolvem todas as coisas, e aquilo que permanece imutável mesmo na várias formas que pouco a pouco assume. (REALE e ANTISERI, 1990)

Este panta rei não é semelhante a uma maresia, uma brisa suave ou água de riacho. É um Tudo Flui como Tsunami ou Terremoto, semelhante ao Vendaval e ao Tufão. Para Heráclito o panta rei é um Turbilhão, uma correnteza gigantesca. Sua metáfora do rio propõe uma correnteza veemente que arrasta tudo ao seu alcance. Tudo flui conjuntamente, o tempo todo! 
É como o passageiro na estação Sé do metrô paulistano às seis da tarde. Enquanto o transporte não chega todos se contém, para não cair na linha. Mas à chegada da composição, a turba avança e arrasta consigo todos os circunstantes. Não há voluntarismo individual. Prevalece a força da multidão. Qualquer resistência é anulada ante o ímpeto do mar humano.

Heráclito ensina que caos (desordem), kósmos (mundo), ápeiron (infinito) e pneuma (espírito) formam um conjunto de fatores que impulsionam tudo de tal maneira à mudança e as coisas são mudadas obrigatoriamente de um estado a outro, involuntariamente. Há empurrões e empuxes. Não há lugar para voluntarismos particulares. Ele concebe o logos em conjunto com o espírito infinito, empurrando o ser e o não ser de um estado a outro. É neste caudal que surge a noção de Nous (mente), para fazer uma conjugação entre o ápeiron e o pneuma. A mente é impulsionada pelo fulgor do infinito junto com o espírito, conjugando-se para impulsionar o elã da existência e o fulgor da vida. A vida é algo que fulgura, faísca, toca fogo. Ela não é um sopro que se apaga, uma brisa amena. A vida é animada com as competências do pneuma e impulsiona tudo à frente, se recusando a ficar inerte e estatizada, pois a falta de movimento é morte.

O pensamento de Heráclito está em fluxo contínuo e não encontra elenco para se expressar nem auditório para aplaudir. Mas o que consegue traduzir em metáforas é o suficiente para colocar a filosofia a trabalhar por milênios: tudo flui – panta rei. Nada é permanente, a não a ser a mudança. O kósmos está impulsionado pelo elã da vida e do espírito que vem e vai ao infinito, levando com ele tudo o que apanhou no kósmos. Mas o pneuma possui nous (mente), e é permeado pelo éter, o princípio da eternidade, a physis do ápeiron (infinito). Em metáfora, seria uma linha que se estende para sempre. Tudo flui. Tudo está correndo para arché (o princípio), o destino final.

Bergson
Bergson reconheceu a fonte da Vida, outra coisa não é, senão consciência, e consciência criadora, que extrai de si mesma tudo o que produz. Bergson diz-. "O elã de Vida de que falamos consiste numa exigência de criação. Não pode criar de modo absoluto porque encontra diante de si a matéria, ou seja, o movimento que é o inverso do seu ponto. Mas ele se apodera dessa matéria, que é a própria necessidade e tende a nela introduzir a maior soma possível de indeterminação e liberdade”.  (ABBAGNANO, 2007)


Obras Citadas

ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. 5ª. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

REALE, G.; ANTISERI, D. História da Filosofia. Antiguidade e Idade Média. 3ª. ed. São Paulo: Paulus, v. I, 1990.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Liberdade & Religiosidade

Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou? E ela disse: Ninguém, Senhor. E disse-lhe Jesus: Nem eu também te condeno; vai-te, e não peques mais.

Cristo não aprisionou a mulher nem a ele mesmo. Deu-lhe liberdade para ir, livre de seus pecados e de seus acusadores. Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres! Esta é a natureza do Espírito, diferente da religião, representada por aqueles homens que a trouxeram para ser julgada e morta. Toda religiosidade prende, aprisiona, apequena, acusa, aponta e pega em pedras, mas Cristo, que é o Espírito, enfrenta os religiosos liberando-lhes a consciência para agirem como quiserem. O impacto do Espírito contra a religiosidade os levou ao chão e tiveram que ir embora sem realizar a lapidação pretendida. Mas para a acusada, o Logos diz: Vai!

A espiritualidade só pode ser autêntica em estado de liberdade, para que assim possa se expressar diante do Criador sem as amarras da religião. Sem o espírito o homem está morto e sem a liberdade o espírito não se manifesta. Ele vem do infinito para provocar a revolução, fluindo com tudo, como o rio de Heráclito. Você mergulha nele, mas ele não para seu fluxo por sua causa. Ao sair dele, você está mudado, mas o espírito não. Nas palavras de Cristo:

O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito.     


Quem nascer do espírito também será como o espírito! Irá e virá sem ninguém poder prendê-lo. Virá do infinito ao infinito! Isto é incompreensível, como disse Origines, para quem [o espírito] não pode ser categorizado como “infinito”, pois o infinito não se presta a ser conhecido. Se for infinito, significa que Ele não conhece a si mesmo. Por definição, o ápeiron se estende infinitamente à frente da possibilidade de ser conhecido, impedindo [o espírito] de conhecer seu fim, portanto, sendo maior que [o espírito]. Se o infinito é maior que [o espírito], [o espírito] é finito e não pode ser [espírito]. Esta lógica de Orígines propõe uma aporia, um raciocínio circular que não permite ir além dele mesmo. Mas a filosofia cristã não procurar eliminar a contradição. Muito ao contrário, faz dela o fio de prata de sua costura teológica.