quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Liberdade & Religiosidade

Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou? E ela disse: Ninguém, Senhor. E disse-lhe Jesus: Nem eu também te condeno; vai-te, e não peques mais.

Cristo não aprisionou a mulher nem a ele mesmo. Deu-lhe liberdade para ir, livre de seus pecados e de seus acusadores. Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres! Esta é a natureza do Espírito, diferente da religião, representada por aqueles homens que a trouxeram para ser julgada e morta. Toda religiosidade prende, aprisiona, apequena, acusa, aponta e pega em pedras, mas Cristo, que é o Espírito, enfrenta os religiosos liberando-lhes a consciência para agirem como quiserem. O impacto do Espírito contra a religiosidade os levou ao chão e tiveram que ir embora sem realizar a lapidação pretendida. Mas para a acusada, o Logos diz: Vai!

A espiritualidade só pode ser autêntica em estado de liberdade, para que assim possa se expressar diante do Criador sem as amarras da religião. Sem o espírito o homem está morto e sem a liberdade o espírito não se manifesta. Ele vem do infinito para provocar a revolução, fluindo com tudo, como o rio de Heráclito. Você mergulha nele, mas ele não para seu fluxo por sua causa. Ao sair dele, você está mudado, mas o espírito não. Nas palavras de Cristo:

O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito.     


Quem nascer do espírito também será como o espírito! Irá e virá sem ninguém poder prendê-lo. Virá do infinito ao infinito! Isto é incompreensível, como disse Origines, para quem [o espírito] não pode ser categorizado como “infinito”, pois o infinito não se presta a ser conhecido. Se for infinito, significa que Ele não conhece a si mesmo. Por definição, o ápeiron se estende infinitamente à frente da possibilidade de ser conhecido, impedindo [o espírito] de conhecer seu fim, portanto, sendo maior que [o espírito]. Se o infinito é maior que [o espírito], [o espírito] é finito e não pode ser [espírito]. Esta lógica de Orígines propõe uma aporia, um raciocínio circular que não permite ir além dele mesmo. Mas a filosofia cristã não procurar eliminar a contradição. Muito ao contrário, faz dela o fio de prata de sua costura teológica.

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