Mulher,
onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou? E ela disse: Ninguém,
Senhor. E disse-lhe Jesus: Nem eu também te condeno; vai-te, e não peques mais.
Cristo não
aprisionou a mulher nem a ele mesmo. Deu-lhe liberdade para ir, livre de seus
pecados e de seus acusadores. Se, pois, o
Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres! Esta é a natureza do
Espírito, diferente da religião, representada por aqueles homens que a
trouxeram para ser julgada e morta. Toda religiosidade
prende, aprisiona, apequena, acusa, aponta e pega em pedras, mas Cristo, que é
o Espírito, enfrenta os religiosos liberando-lhes a consciência para agirem
como quiserem. O impacto do Espírito contra a religiosidade os levou ao chão e tiveram que ir embora sem realizar
a lapidação pretendida. Mas para a acusada, o Logos diz: Vai!
A espiritualidade só pode ser autêntica em
estado de liberdade, para que assim possa se expressar diante do Criador sem as
amarras da religião. Sem o espírito o homem está morto e sem a liberdade o
espírito não se manifesta. Ele vem do infinito para provocar a revolução,
fluindo com tudo, como o rio de Heráclito. Você mergulha nele, mas ele não para
seu fluxo por sua causa. Ao sair dele, você está mudado, mas o espírito não.
Nas palavras de Cristo:
O vento assopra onde quer, e ouves a sua
voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é
nascido do Espírito.
Quem nascer do
espírito também será como o espírito! Irá e virá sem ninguém poder prendê-lo. Virá
do infinito ao infinito! Isto é incompreensível, como disse Origines, para quem
[o espírito] não pode ser categorizado como “infinito”, pois o infinito
não se presta a ser conhecido. Se for infinito, significa que Ele não conhece a
si mesmo. Por definição, o ápeiron se estende infinitamente à
frente da possibilidade de ser conhecido, impedindo [o espírito] de conhecer
seu fim, portanto, sendo maior que [o espírito]. Se o infinito é maior que [o
espírito], [o espírito] é finito e não pode ser [espírito]. Esta lógica de
Orígines propõe uma aporia, um
raciocínio circular que não permite ir além dele mesmo. Mas a filosofia cristã
não procurar eliminar a contradição. Muito ao contrário, faz dela o fio de
prata de sua costura teológica.
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